segunda-feira, 25 de julho de 2016

Clube de dança de Chico Doca



Esta foto do Ademir Damasco (nenê) publicada por Amilton Andrade nos remete a um pedacinho da Historia do Campeche. Mostra exatamente a esquina da rua da Capela e Avenida Campeche. A casa com as janelas abertas era o clube de dança do Chico Doca onde as pessoas se encontravam aos domingos para as tradicionais domingueiras. Vinha gente de toda a região (Campeche, Rio Tavares, Costeira, Lagoa da Conceição ....). Ali se formaram muitos casais que estão juntos até hoje. A maioria dos jovens da Lagoa vinham na rural do seu João Teófilo que fazia os fretes. Chico Doca juntamente com um filho cuidava da porta. Sem uso de carimbo ou qualquer outro tipo de controle, ele sabia exatamente quem havia pago a entrada (cota) e não errava nunca. Quem não tivesse condições de pagar naquele momento ele liberava o fiado até a próxima domingueira. Ninguém ficava sem se divertir. O conjunto musical preferido era da família do João Orlando (Baiá, Carlinho, Betinho etc). Tocavam desde músicas internacionais até a popular brasileira. Como eu era ainda muito jovem me divertia vendo os adultos dançarem e tomando gasosa gelada em cochos de madeiras com gelo e serragem. Na segunda feira me levantava cedinho e vasculhava ao redor do clube na intenção de achar moedas, bijouterias... Bons tempos. Esta casa foi demolida e construída outra com arquitetura moderna onde funciona uma imobiliária.
A casa que aparece com a porta fechada pertencia ao seu Emílio, coveiro da comunidade. Ali funcionava a barbearia. Hoje dá lugar a um sobrado onde funciona uma farmácia. 
O carro de bois carregado de lenhas era do seu Aristides Chagas que aqui aparece na companhia do seu Zé Carlota. Provavelmente estão se preparando para a farinhada. O Campeche possuía muitos engenhos de farinha que com a especulação imobiliária desapareceram. Essas são histórias de nossa comunidade.

Texto por: Hugo Adriano Daniel

Casa da Oscarina

O OUTRO LADO DA RUA


No Mês passado publicamos uma foto do Ademir (Nenen) Damasco onde retratava a esquina do Campeche com a rua da Capela. Nesta semana foi publicado uma outra foto, também do Nenen, representando a mesma esquina mas com ângulo inverso que achei caber também um comentário e uma republicação.

De fato a senhora que aparece na janela da casa do meio é a Dona Oscarina. A casa provavelmente construída no fim da década de sessenta. Vejam que não há cerca pois não era hábito do açoriano murar ou cercar sua propriedade. A construção é de madeira e bastante alta do solo onde se aproveitavam o espaço vazio para guardar suas ferramentas do trabalho na lavoura (enxadas, pás ,foices, machados...) . A construção de casas de madeira e deste estilo se intensifica na década de sessenta. Antes deste período os açorianos construíam suas casas de material sólido utilizando o óleo de baleia para o preparo da argamassa. Nestas casas dos açorianos mais antigos também não haviam jardins pois aproveitavam a parte da frente do terreiro para secar café que denominava-se eira ou até para secar as redes de pesca. Os açorianos mais abastados desenhavam com massa a bordadura do telhado para encobrir a telha de calha quase que totalmente. Isso denominava-se beira. Daí a clássica frase quando alguém é desprovido de riquezas: Este não tem eira nem beira.

Voltamos a foto. Do lado esquerdo aparece uma ponta de telhado e uma cerca. Esta casa e a cerca é posterior a década de setenta e pertencia a um morador da Costeira do Pirajubaé, seu Chico da Marina. Hoje é uma pizzaria. Antes de pertencer a ele esta propriedade era do senhor Osvaldo Gonçalves (Vadinho do Neneca )sendo ali o ponto de encontro dos homens da comunidade que trocavam algumas palavras sobre a pesca, a lavoura e degustavam um traguinho é claro, ninguém é de ferro. As crianças não podiam entrar nem para comprar. Chamava-se o pai que estava no recinto e este realizava a compra. Geralmente alguns gramas de carne seca e uma garrafinha de querosene para a lamparina (pomboca).

A casa da direita pertence ao Nilton Vigânigo, (Nilton da Praxedes). Sua construção é posterior a casa da Oscarina , pois foi erguida e transformada em comércio quando o mesmo retornou da cidade de Santos onde fora viver para “ganhar a vida”. No Campeche não haviam empregos e muitos moradores migravam para o Rio Grande do Sul para pescar ou Santos para trabalhar em restaurantes. O comercio do Nilton da Praxedes ainda permanece ali, hoje tocado por seu filho Mauro Vigânigo, popular Babão.

Ao passar hoje no local percebe-se muita diferença da foto. Uma transformação total. Principalmente nos estilos das construções que nas reformas adquiriram novas aparências.

Texto por: Hugo Adriano Daniel